Tangências - Miguelanxo Prado
Tangências - Miguelanxo Prado
Tangências poderia ser resumido como uma coletânea de pequenas histórias de encontros, reencontros e desencontros, ou quando temos talento apenas para sermos amantes¹.
Seguem algumas frases e diálogos que me chamaram atenção.
“Rogélio interpreta agora a última cena de um desses filmes que tanto odeia e do qual é o único espectador.” - Lampejos no Cristal, p. 14.
“Se distrai no gesto, estudado e fútil, sem conseguir suprimir. Como um incômodo ruído de fundo, a sensação amarga e reluzente de um fracasso mesquinho e sordido, carente de nobreza contundente como os lampejos no cristal de seu copo.” - Lampejos no Cristal, p. 14.
Ou seja, depois de sacrificarmos nosso amor para saciar o apetite de nossas imprescindíveis ambições, voltamos após doze anos ao lugar em que nos separamos para conquistar o mundo… Mediocres e assalariados. - Tangências, p. 17.
Um silêncio. O tempo traça tangências: a tentação de retomar o passado e o temos de colocar esse desejo em palavras. - Tangências, p. 17.
Um novo silêncio. Só o necessário para reorganizar a realidade, o tempo que se demora para fechar um livro onde estivemos relendo um parágrafo subitamente recordado. - Tangências, p. 18.
E um dia percebi que não me lembrava quando tinha sido a última vez em que havia pensado em você. Descobri que sua lembrança não doía mais em mim. - Café no Meio da Tarde, p. 25.
Não resisti à tentação de voltar a te possuir sem ter te procurado. Sem temer te perder. …Sem querer te manter. - Café no Meio da Tarde, p. 25.
Já não me importa a cor da lingerie das mulheres que dormem comigo. Só desejo a companhia fugaz delas e que, ao irem embora, não deixem lembranças. - Café no Meio da Tarde, p. 26.
Minha única intenção ao vir aqui com você foi satisfazer a minha vaidade. - Café no Meio da Tarde, p. 26.
Sabe, Carlos? Não tenho certeza se nos separamos por nossa vontade ou se porque esteticamente este é o final mais adequado para nossa história. - Demorado Crepúsculo de Outono, p. 27.
Pelo contrário. Agora sabemos que tomamos a decisão correta quinze anos atrás, Ramón. Agora podemos discutir ideias e projetos, formar um “ótimo time”. Sem fantasmas, sem dúvidas, sem equívocos… …Sem amor. - A partir de Agora, p. 36.
“Ramón não responde. Ambos guardam silêncio, sentindo em seu interior a indiferença cinzenta dos conformados, a quietude de se saberem definitivamente perdidos. sem sequer o incômodo da paixão reprimida. Inacreditavelmente não doi.” - A partir de Agora, p. 36.
Divindades Ociosas, p. 38.
[mulher] - Sabe, Hector, aqui é o Olimpo. Você e eu pertencemos à estirpe dos novos deuses. E a cidade está aí, aos nossos pés.
[mulher] - Somos vencedores e nossas decisões conduzem as vidas desses simples mortais que se aglomeram angustiados ali embaixo.
[mulher] - E esta tarde alheios ao afã dos homens, os deuses desse Olimpo de final de século fizeram amor.
[homem] - Isso ficou muito bonito. Você tem com frequência esses delírios mitológicos?
[mulher] - Você é muito cínico. Tirando a licença poética, não é verdade o que eu disse?
[homem] - Novos deuses… O grande deus, tão antigo quanto o mundo, é o Poder. Você e eu somos meros Manipuladores de dinheiro e informação.
[homem] - Servidores dos grandes sacerdotes desse deus… E tão distantes dele como os “simples mortais que se aglomeram ali embaixo”, como você disse.
Não deveria ter esquecido que, no fim das contas, essa era uma transação comercial e que a primeira regra desse tipo de negócios é: “proibido se apaixonar pelo cliente”. - Privilégios Dourados, p. 44.
E a displicência da mulher nua, que sou eu, não é sensualidade, mas sim tédio. Balada do Saxofone e Neons, p. 52.
¹ Frase do músico quixadaense Toni.