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Afeganistão

A semana já começa com o Talibã tomando a cidade de Cabul e voltando a controlar o Afeganistão.

Talvez já tenhamos umas das imagens marcates da década. As pessoas agarrando-se num avião tentando fugir e depois que o avião decola essas pessoas vão caindo. Muito triste.

Impressinante a coragem de uma jornalista da CNN, Clarissa Ward, que permaneceu em Cabul fazendo as coberturas diárias. No dia 20 de Agosto deixou a cidade num avião de refugiados.

Política

Surgiu um áudio atribuído ao cantor Sérgio Reis sobre uma possível invasão do congresso no dia 8 de Setembro. A intimidação seria para exigir voto impresso - lembrando que a pauta foi rejeitada no congresso ainda nesta mesma semana, e impeachment dos juízes do STF. Caso as exigências não sejam atendidas iriam parar o país através de uma greve de caminhoneiros. A PF fez visita a casa do cantor para averiguar as possíveis ameaças.


Incrível é ninguém ter lavantado a questão da lei de segurança nacional para o caso. Lembrando que ainda este ano em Goiás, uma pessoa que tinha uma faixa no carro pedindo a saída do presidente foi enquadrada na dita lei.

No Radar

Série de coisas, atuais ou não, mas que vão aparecendo ao longo dos dias.

Em O novo Iluminismo, uma original avaliação da condição humana no terceiro milênio, o cientista cognitivo Steven Pinker nos incita a rechaçar manchetes alarmistas e profecias apocalípticas, que vicejam nos dias atuais e influenciam nossa visão de mundo. Com 75 gráficos impressionantes, ele demostra que a vida, a saúde, a prosperidade, a segurança, a paz, o conhecimento e a felicidade estão em ascensão, não apenas no Ocidente, mas em todo o mundo. Para Pinker, esse progresso é uma herança do Iluminismo: a convicção de que a razão e a ciência podem impulsionar o florescimento humano ― e, mais do que nunca, elas precisam de uma defesa vigorosa. Nadando contra as correntes da natureza humana exploradas por demagogos ― tribalismo, autoritarismo, demonização, pensamento mágico ―, o projeto iluminista é atacado por religiosos, políticos e intelectuais pessimistas que insistem que a civilização ocidental passa por um inexorável processo de declínio. Mas basta olhar os dados: eles indicam que, com o avanço do conhecimento, as pessoas estão de fato vivendo mais e melhor.

  • The Fall - filme de Tarsem Singh

Uma garotinha que se chama Alexandria se encontra em tratamento em um hospital por estar com um braço quebrado. A menina começa uma amizade com outro paciente do local, um jovem dublê de cinema que é internado no mesmo hospital. A partir desta relação, o ator começa a contar uma história fantástica de cinco heróis que juntam forças para derrubar um governador tirano, na Índia. Viajando por lugares exóticos e únicos, as personagens desta fantástica história irão enfrentar exércitos e perigos.

A sangue-frio... com sangue quente

Texto publicado na revista Kraken n. 3 (Ed. Glénat, Espanha, 1997)

O genial romancista Truman Capote é autor de um romance intitulado A sangue frio - leitura imprescindível para os amantes do gênero noir , que se tornou um filme com o mesmo nome, dirigido por Richard Brooks nos anos cinquenta.

Romance e filme contam a sangrenta história de dois bandidos pés de chinelo, dois amadores que planejam roubar uma pequena fazenda no Meio Oeste americano. A coisa se complica e eles decidem acabar a sangue-frio com todos os membros da família que vivem na casa. Posteriormente, os dois criminosos são presos, julgados e executados com o mesmo sangue-frio com que eles assassinaram suas vítimas. De alguma forma, Truman Capote, um opositor radical à pena de morte, adverte você que os assassinos e a Justiça são ramos da mesma árvore, que é tão terrível a matança realizada pelos dois bandidos quanto seu justiçamento nas mãos da lei.

Eram sempre divertidas, em filmes "ingênuos" e "bem intencionados" dos anos 40/50, as sequências que narravam como o bom, empunhando uma pistola, apontava com ela para o mau de turno. Em vez de liquidá-lo a sangue-frio, decidia lhe contar tim-tim por tim-tim o labiríntico processo dedutivo que havia levado a descobrir que ele era o impiedoso esquartejador assassino das doze crianças do orfanato. Situação sempre aproveitada pelo mau para saltar sobre o bom e desarmá-lo, o que dava a chance de os dois trocarem um sortido repertório de golpes e permitir in extremis que o bom enfim fulminasse o mau com um justiceiro disparo a sangue quente, em clara defesa própria. O sangue quente desculpava quase tudo.

No cinema atual, pela mão de diretores como Martin Scorsese ou Tarantino, os bons e os maus se diluem: só existem seres de moral cinzenta, que atiram primeiro, repetidamente, e depois, como única reflexão, cospem sobre o rosto de sua vítima. Com eles chegamos ao realismo dentro da ficção, a uma mistura igualitária de sangue frio e de sangue quente, a fórmula perfeita para um fim de século imperfeito, no qual a violência é um prato quotidiano e repetitivo.

Quando escrevi minha própria história intitulada "A sangue-frio", tinha fresco na memória o romance/filme de Truman Capote misturado com os sangrentos fatos protagonizados pelo ETA(1) - estive em Barcelona no mesmo dia em que explodiu a bomba no Hipercor - e decidi "brincar" com a possibilidade de que, ao sangue frio do assassino, opusesse-se com a mesma brutal e decidida determinação o sangue frio da Justiça. Sem saber, estava adiantando-me à nova "filosofia" da violência, cujo sumo sacerdote máximo é Tarantino; sem saber, estava dando as costas ao humano, compreensível, acessível, sangue quente serviu de desculpa para tantos crimes.

A próxima história, intitulada "Até a vista, amigo", veio-nos por encomenda. Leopoldo Sánchez, chefão da revista, Metropol, sugeriu a Jordi Bernet e a mim história que contássemos tivesse o rádio como que coadjuvante. Naqueles anos, o rádio estava ganhando a batalha contra a tevê, demonstrando uma independência política e uma agilidade informativa que superavam a manipulada tevê.

Escrevi meu roteiro, e sem me dar conta, de uma droga pesada, a informação, passei para outra droga pesada: a heroína. As duas, a informação e a heroína, têm os mesmos efeitos nocivo para a saúde, ambas aniquilam parte da nossa humanidade. A informação porque faz cair diariamente sobre nossa consciências a percepção de que este nosso mundo é tudo, menos perfeito. A é heroína porque é o atalho para escapar da realidade e acabar na negra não existência.

Como anedota, direi que, para além da história, o que agradou a muitos fãs da série foi o primeiro quadro da página 7 [pag. 65 deste livro]. Nela se vê claramente um subfuzil em punhado por um dos personagens; pois bem, espantaram-se de que, entre tanta ficção - a informação e a droga -, Jordi Bernet tivesse chegado numa realidade tão estrita como desenhar em seus mínimos detalhes um subfuzil S.M.G.U.Z.I. 9 mm fabricado em Israel. É que não sabem que Jordi Bernet torna crível o incrível e se documenta pacientemente para isso.

Um tempo depois, folheando um catálogo de armas descobri que o S.M.G.U.Z.I. é quase gêmeo do Star Z-84, fabricado na Espanha, uma arma fornecida aos Corpos e Forças de Segurança, e esse detalhe me confirmou que a informação (distorcida e manipulada) e a droga são armas quase gêmeas.

(1) ETA - Euskadi Ta Askatasuna (em basco: Pátria Basca e Liberdade) foi uma organização nacionalista armada, fundada em 1959, que lutava pela independência do País Basco. Em 1987, o grupo fez um atentado a bomba em uma sede da loja Hipercor, matando 21 pessoas.